Mais três representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) foram ouvidos ontem pela I da Terra na Assembléia Legislativa. Os líderes do assentamento de Pontal do Tigre, em Querência do Norte, Pedro Alves Cabral e Delfino José Becker, e a diretora da Cooperativa de Produção Agrícola e Reforma Agrária – Coano – Marli Brambilla.
A comissão havia requisitado a condução da última depoente sob vara, porque ela havia deixado de atender duas convocações anteriores. Mas diante de sua presença, por livre iniciativa, o presidente da comissão, deputado Élio Rusch, cancelou o pedido junto à Justiça de Loanda. Como já havia acontecido na sessão anterior, os trabalhos foram acompanhados por um grande número de sem-terras e também pelo presidente da União Democrática Ruralista (UDR) -Noroeste, Normam Prochet.
Pontal do Tigre
Cabral, o primeiro a falar, contou que luta por um pedaço de terra desde 1984. Ele chegou a ser assentado em Castro, em projeto conduzido pelo antigo Instituto de Terras e Cartografia (ITCR), ainda no governo de José Richa. Foi transferido para Querência, onde ficou acampado até 1995, quando o projeto de Pontal do Tigre foi regularizado.
Assentamento
Segundo ele, o assentamento ocupa uma área de 10.500 hectares onde estão assentadas 327 famílias. Produz mais de 6 mil cabeças de gado, 150 mil sacas de arroz, 30 mil toneladas de mandioca e 30 mil litros de leite. Tem uma escola para atender os filhos dos agricultores – o Centrão – com mais de 700 alunos. Em seu entender, a questão agrária pode ser resolvida sem grandes dificuldades no país. Basta que o governo faça cumprir o que está definido pela Constituição Federal.
O relator da comissão, deputado Mário Bradock (PMDB), que atuou em Querência do Norte como delegado de polícia concordou: “O governo não faz nada para melhorar a situação, penalizando proprietários e trabalhadores”, ajuntou.
A seguir falou Delfino Becker, confirmando que a produção dos assentamentos é vendida pelos cerealistas da região, pela Coano e por laticínios, que os assentados contribuem com os acampamentos, e que a reforma agrária trouxe benefícios concretos para a região de Querência e Monte Castelo, movimentando a economia e gerando impostos. Becker defendeu o diálogo entre as partes envolvidas nos conflitos pela posse da terra, maior agilidade dos órgãos oficiais e destacou que a triagem dos assentados é feita pelo Incra, não pelo MST. Quanto aos acampamentos, itiu que se formam também em função da pressão social, reunindo pessoas com vocação para a agricultura e outras egressas do meio urbano e sem formação rural. Para ele, um dos maiores obstáculos ao sucesso do projeto de reforma agrária é a falta de assistência técnica.
Durante os dois depoimentos, o deputado Mário Bradock fez um “mea culpa”, explicando que em seus primeiros contatos com os sem-terras exercia as funções de delegado.
