Forças de segurança leais a Laurent Gbagbo, que insiste em se manter na presidência da Costa do Marfim apesar de ter sido derrotado nas urnas em novembro, fizeram vários disparos que deixaram pelo menos quatro mortos. Os tiros ocorreram após as forças de Gbagbo terem isolado uma grande parte de um bairro conhecido por ser habitado por partidários do rival Alassane Ouattara, vencedor da eleição presidencial reconhecido pela comunidade internacional.
Soldados da Organização das Nações Unidas (ONU) que chegaram num comboio de 13 veículos foram forçados a recuar por uma multidão que os cercou enquanto tentavam entrar na área. Jovens aliados a Gbagbo se aglomeraram na estrada, segurando paus e jogando objetos no caminho das tropas da ONU.
A área PK 18, onde os confrontos da madrugada ocorreram, é parte de Abobo, um distrito de Abidjã que apoia Ouattara – ele venceu o segundo turno da eleição presidencial realizado em 28 de novembro com uma margem de cerca de meio milhão de votos, segundo resultados verificados pela ONU. Grupo de jovens aliados a Gbagbo tem organizado confrontos diários para lembrar à comunidade internacional que não quer interfência na Costa do Marfim.
Ouattara é reconhecido como presidente eleito pela ONU, União Europeia (UE), União Africana e Estados Unidos, mas a pressão internacional não tem sido suficiente para retirar Gbagbo, de 65 anos, do poder. Ele acusa a ONU de ter endossado a vitória de Ouattara de forma tendenciosa e se recusa a deixar o cargo.
Moradores da área disseram que a polícia os acordou entre 4h e 5h da madrugada e começou a realizar revistas em todas as casas, acusando-os de esconder armas. Os moradores revidaram matando dois policiais, disse Marco Boubacar, que lidera a unidade local das Forças Novas, um grupo rebelde aliado a Ouattara. Os óbitos não puderam ser confirmados.
Boubacar falou enquanto guardava a ponte que leva a PK 18, segurando uma longa faca de cozinha, enquanto caminhões da polícia se dirigiam para a área cheios de policiais e soldados. Tiros podiam ser ouvidos em intervalos de cerca de 20 minutos.
Críticas
Os jornalistas que conseguiram entrar na área após uma trégua encontraram quatro corpos no chão, aparentemente vítimas tiros e que trajavam com roupas civis. Quando os soldados a ONU apareceram, horas mais tarde, o comboio – que incluía dois grandes veículos blindados – chegou apenas até a cerca de 1.600 metros do local onde o confronto ocorreu.
Grupos de direitos humanos têm criticado a ONU por se preocupar apenas com as forças de segurança de Gbagbo e por permitir que abusos ocorram sob suas vistas. O chefe do setor de direitos humanos da ONU recebeu relatos sobre duas valas comuns que conteriam cerca de 80 corpos de pessoas mortas após a eleição. As informações são da Associated Press e da Dow Jones.
