A retomada da indústria brasileira no mundo após a ascensão da China exigirá uma política mais agressiva para o setor e uma concentração de esforços bem maior do que adotada até agora para reduzir o famigerado Custo Brasil. Ainda assim, alguns setores continuarão sofrendo com a concorrência chinesa por causa da enorme escala de produção do país asiático.
Com escala, a economia chinesa é capaz de produzir grandes quantidades de produtos por um preço mais baixo do que os dos países concorrentes. A China ainda tem a vantagem do custo da mão de obra mais baixo, apesar de os salários terem aumentado nos últimos anos.
“Competir com a China não dá, seja para o Brasil ou para qualquer outro país industrializado. O modelo de desenvolvimento chinês é diferente de qualquer modelo de países de industrialização avançada”, afirma a secretaria de Desenvolvimento da Produção, Heloisa Menezes, do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Um levantamento da Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que, na comparação com um similar importador, um produto brasileiro é 32,3% mais caro do que um similar chinês importado.
“A indústria brasileira foi negligenciada”, afirma o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz. “A concorrência que a China imprime no mundo todo limita muito esse processo (de retomada da indústria brasileira)”, afirma Julio Sergio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
A dificuldade na competição com produtos importados ficou evidente para a indústria de aço, sobretudo depois da crise financeira internacional de 2008. A relação entre importação e consumo que variava entre 5% e 6% saltou para 20% em 2010, com um surto de produtos importados. Esse porcentual reduziu um pouco neste ano, para 13%, ainda acima da média. “Se nada for feito, em 2023, 53% do consumo de aço no mercado doméstico virá do exterior”, afirma o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.
De acordo com ele, a competitividade da indústria foi abalada por uma série de fatores sistêmicos, como o elevado preço da energia elétrica (o governo prometeu 20% de queda no preço da energia, mas a indústria só conseguiu 7%) e do gás natural, a cumulatividade dos impostos e a pesada carga tributária. Junta-se a isso o excedente de 600 milhões de toneladas de aço no mundo por causa da desaceleração econômica do mercado global.
“Estamos inseridos dentro de uma perversidade econômica. Não consigo exportar e não tenho condições de competir com o produto importado”, afirma Lopes. Com isso, o setor que deveria operar acima de 80% da capacidade instalada, hoje não a dos 70%. A participação no Produto Interno Bruto (PIB) também diminuiu – era de 1,8% em 2004, e ficou em 0,7% no ano ado. “É preciso haver uma correção das assimetrias para melhorar a competitividade da indústria.”
Retomada Apesar da concorrência maior, a indústria brasileira pode voltar a crescer. O País é dono de um poderoso mercado consumidor interno – que pode ajudar a sustentar uma retomada – e tem no seu parque fabril as principais indústrias do mundo.
No ado, na década de 80, o potencial brasileiro levou o Brasil a ser a sétima maior economia industrial década de 80. Hoje, está na 12.ª posição. Por causa da baixa competitividade dos últimos anos fomos ultraados pela indústria de países como China e Coreia do Sul. “Se o País conseguir resolver os problemas básicos da economia, poderá pensar numa política industrial menos defensiva e mais atrevida”, afirma Almeida.
A possibilidade de uma retomada da indústria no Brasil a por uma agenda pesada, na avaliação de Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), com a qualificação da mão de obra, melhoria da infraestrutura, revisão do tamanho e complexidade da carga tributária.
“Essa agenda é totalmente factível. É preciso criar um ambiente correto daquilo que não depende das empresas”, afirma Castelar. Taxa de juros e câmbio comportados também são dever de casa para devolver a competitividade da indústria nacional. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
