Medo de dirigir

Impacto além da batida: acidentes de trânsito podem deixar traumas psicológicos

Foto: Arquivo/Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Além de prejuízos materiais e danos físicos, os acidentes de trânsito podem gerar impactos psicológicos significativos nos condutores que os vivenciam direta ou indiretamente. Dados registrados no Boletim de Acidentes de Trânsito (Bateu) da Polícia Militar do Paraná (PMPR) mostram que Curitiba já contabilizou 11.609 sinistros de trânsito em 2025.

Esse número indica que, até esta quinta-feira (15), a polícia foi notificada de um novo acidente aproximadamente a cada 16 minutos e 46 segundos. Em média, foram registradas 86 ocorrências por dia nas vias da capital paranaense.

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De acordo com o psicólogo especialista em Psicologia do Trânsito Caçan Jurê Cordeiro Silvanio, os efeitos emocionais variam de pessoa para pessoa. Enquanto alguns motoristas conseguem retomar a rotina normalmente, outros desenvolvem quadros de ansiedade, depressão ou traumas, por exemplo.

“Em curto ou longo prazo, essas pessoas podem evitar dirigir ou se afastar de situações relacionadas ao trânsito. O ideal é enfrentar essas dificuldades, sejam elas de origem depressiva ou ansiosa, com apoio profissional e e médico e psicológico, para ressignificar o episódio vivido”, explica o especialista.

Mortes no trânsito geram impacto imediato nos condutores

Em 2024, 141 pessoas morreram em acidentes nas ruas de Curitiba, segundo relatório do Programa Vida no Trânsito (PVT), coordenado pela Secretaria Municipal de Defesa Social e Trânsito (SMDT). Dados da Superintendência de Trânsito, também da SMDT, reados pelo Corpo de Bombeiros (CBM), indicam que 3.318 vítimas desses acidentes foram atendidas até o final de março deste ano.

Ao lidar com tragédias que envolvem vítimas fatais, o psicólogo Caçan Silvanio observa que muitos pacientes apresentam um sintoma recorrente: a perda de memória relacionada ao ocorrido. “Essas pessoas podem relatar o que aconteceu e estarem preocupados com as pessoas durante o evento. Porém, após o evento, esquecem o que aram. Do ponto de vista neurológico, fisiológico e psíquico, esse mecanismo funciona como uma blindagem para se autopreservar desse evento traumático”, afirma.

Para que a pessoa retome a rotina e bem-estar, a psicoterapia torna-se uma das principais aliadas. Além do acompanhamento clínico, a troca de vivências com quem enfrentou situações semelhantes pode ser reconfortante. “É comum surgir o pensamento: ‘por que com ela e não comigo?’ ou ‘se ela estivesse sentada em outro lugar’. Esses sentimentos são desconstruídos no processo terapêutico e reconstruídos para, de fato, dar conta do que aconteceu em si”, destaca Silvanio.

Medo de dirigir pode impedir motorista de assumir o volante

“Não conseguia mais dirigir. Sentia medo só de estar dentro do carro. Quando alguém falava em pegar a chave, eu já tremia. Via mulheres e colegas dirigindo normalmente e pensava que nunca superaria aquilo”, relata Marta Lorenzetti Manzoli Silva. Em 2014, ao retornar de uma viagem ao interior do Paraná, ela bateu o carro ao chegar na casa do pai, em Pérola, próximo a Umuarama.

Na tentativa de voltar à rotina ao volante, Marta procurou uma psicóloga especialista em amaxofobia – transtorno caracterizado pelo medo intenso de dirigir ou estar em um veículo. Após sessões realizadas dentro do próprio carro, ela começou a percorrer trajetos curtos. “A recomendação da psicóloga era simples: ‘pegue o carro e vá até onde você se sentir confortável’”, recorda.

6% dos brasileiros têm medo intenso de dirigir

Especialista em Amaxofobia, a psicóloga e ex-instrutora do Departamento de Trânsito do Paraná (DETRAN) Salete Coelho Martins enfatiza que o transtorno precisa ser reconhecido e tratado com seriedade. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados em 2023, apontaram que cerca de 6% da população brasileira sofre com esse tipo de fobia.

Imagem mostra uma mulher na porta de um carro cinza. Ela sorri e mostra a chave de um carro.
Segundo Salete, a fobia pode se manifestar tanto em motoristas que já se envolveram em acidentes quanto em pessoas que nunca conduziram um veículo. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Para tratar o estresse pós-traumático associado à fobia, é necessário identificar se realmente se trata de um transtorno. “O medo, em si, é necessário à sobrevivência. Mas, quando se torna exacerbado a ponto de impedir a pessoa de entrar em um carro ou dirigir, compromete a qualidade de vida. Não tem mais aquela liberdade de pegar o teu carro e ir ao supermercado, por exemplo”, explica Salete.

Segundo ela, a fobia pode se manifestar tanto em motoristas que já se envolveram em acidentes quanto em pessoas que nunca conduziram um veículo.  Em ambos os casos, o processo de tratamento deve começar com o acompanhamento psicológico, antes de qualquer tentativa de voltar à direção.

Maio: mês de conscientização sobre acidentes no trânsito

Organizada pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), a campanha Maio Amarelo tem como objetivo alertar a população sobre o alto número de mortes e feridos em acidentes de trânsito. Desde 2011, a iniciativa busca chamar a atenção do poder público e da sociedade civil para a importância da segurança nas rodovias de todo o país. Em 2025, o tema da campanha é: “Mobilidade Humana, Responsabilidade Humana”.

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